terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Você de bem com os Carboidratos

Imagine um café da manhã sem pães nem frutas. Nas outras refeições, nada de arroz, feijão nem a maioria dos vegetais. É assim a dieta das pessoas que limitaram quase a zero o consumo de carboidratos. Elas viraram a pirâmide alimentar de cabeça para baixo, seguindo a receita do cardiologista americano Robert Atkins, que nos anos 1970 colocou tais nutrientes no posto de vilões causadores dos quilos extras. Não sem protestos. "A Organização Mundial da Saúde recomenda que 55% das calorias ingeridas venham dos carboidratos", critica o vice-presidente da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade, Alfredo Halpern.


A gente não quer só proteína, a gente quer carboidrato!
Os carboidratos são ingredientes indispensáveis para que o corpo funcione a pleno vapor. "O açúcar resultante da quebra das moléculas deles alimenta o sistema nervoso central, estimula o pâncreas a produzir insulina e fornece energia para os músculos", diz a nutricionista Rosa Wanda Diez Garcia, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no interior paulista. Infelizmente o brasileiro está ingerindo menos do que no passado alguns produtos ricos em tais componentes.
Segundo uma pesquisa da Universidade de São Paulo, o consumo de feijão diminuiu cerca de 15% nos últimos 10 anos, para se ter idéia. "É uma pena. Ele também é ótima fonte de fibras", lamenta o bioquímico Franco Lajolo, um dos autores do estudo. Banir os carboidratos do cardápio pode ser mais grave do que se imagina.

Prato desfalcado
"Quem não come alimentos com essas substâncias deixa de ingerir, por tabela, outros nutrientes essenciais", alerta a nutricionista Mara Andréia Valverde, da Universidade São Marcos, na capital paulista. "A banana, por exemplo, tem muito potássio e ácido fólico. O primeiro regula a acidez dos líquidos corporais e o segundo é importante para o sistema nervoso."

A gente não quer só comida. Quer cintura fina
No começo deste ano o menu proposto pelo cardiologista Robert Atkins há quase três décadas, em que reinam iguarias ricas em proteínas e gorduras, ganhou força. Um artigo publicado na conceituada revista americana Science afirma que não há evidências científicas de que uma dieta gordurosa faça mal para a maioria da população.
Para sustentar a tese o jornalista Gary Taubes, autor do texto, citou entre outras pesquisas uma de Havard. O trabalho avaliou hábitos alimentares de 300 mil pessoas por 20 anos e concluiu que não havia diferença entre a saúde de quem se fartava com guloseimas cheias de gordura e a daqueles que as evitavam. Famoso por ajudar a moldar corpos como o da atriz Vera Fischer, que perdeu 15 quilos em apenas três meses, o nutrólogo carioca Alberto Serfaty é um dos mais ferrenhos defensores da corrente protéica.
"Perde-se peso porque, ao limitar os carboidratos, a gordura acumulada é inevitavelmente queimada para gerar energia." Segundo ele, os benefícios vão além da silhueta recauchutada: "A dieta das proteínas reduz o excesso de insulina, um dos fatores que causam a obesidade, diminui a hipertensão e também o colesterol."

A gente quer o cardápio inteiro e não pela metade
A popularização da dieta protéica levou muitos especialistas a fazer variações sobre o tema — sempre, é claro, deixando os carboidratos no canto do prato. Enquanto Atkins só permite nas duas primeiras semanas o consumo de 20 gramas por dia — menos que uma maçã —, há quem libere o dobro disso, o equivalente a duas fatias de pão integral.
Outra corrente veta esses nutrientes apenas depois das 18 horas, quando o funcionamento do corpo fica mais lento. Os médicos e os nutricionistas sentados do outro lado da mesa reconhecem que o regime das proteínas é eficaz do ponto de vista da perda de peso, mas jogam pimenta no debate.
"Ele é difícil de ser mantido. As pessoas enjoam e voltam aos carboidratos", opina a endocrinologista Maria Teresa Zanella, da Universidade Federal de São Paulo.

Aposta de Risco
Mais contundente é Alfredo Halpern. Na opinião dele, o regime sugere o consumo de gorduras como algo inofensivo, o que pode ser tremendamente perigoso. "O ideal é seguir uma alimentação com um pouco de tudo, inclusive carboidratos", afirma.
O argumento de Halpern é reforçado por uma recente pesquisa da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Ao investigar o que tinha no prato de 3 mil pessoas que perderam cerca de 15 quilos e mantiveram-se magras por um ano, descobriu-se que apenas 204 comiam menos de 90 gramas de carboidratos por dia. Sinal de que esses nutrientes não precisam ficar longe das garfadas — distância que não combina com dieta saudável.


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